março / 2020
O carro da foto acima representa mais um passo da Renault em busca de maior participação no mercado. Desde que chegou ao Brasil como montadora, em 1998, a marca nunca havia investido tanto na categoria que representa os carros mais vendidos no país stualmente, a dos compactos. O Symbol vem para substituir o Clio sedã, carro que há muito já não representava qualquer ameaça aos concorrentes, mas apenas nas versões top de linha. As versões básicas do extinto modelo já foram substituídas pelo Logan.
Essa reorganização de linha, no entanto, causa certo "tumulto" na linha Renault: sua plataforma é exatamente a mesma do Clio sedã, algo que se mostra evidente quando
olhamos o carro pela primeira vez. A curva existente na estamparia das portas, logo abaixo das janelas, é praticamente a mesma e o espaço interno, algo acanhado, confirma o grau de
parentesco entre ambos. Porém, o Logan, sedã mais barato da marca, é mais espaçoso e possui plataforma mais moderna, muito mais próxima à do Clio III que a do Clio II (a do Symbol).
Outro item que pode causar certa confusão é o fato de que o Clio hatch, que não sairá de linha por enquanto, está posicionado abaixo do Sandero, cuja plataforma é a mesma do Logan
que, como foi dito anteriormente, é posicionado abaixo do Symbol no mercado. Caso não tenha ficado claro até aqui, nós entendemos e recomendamos que comece a ler esse parágrafo
novamente.
Complicações de posicionamento de mercado à parte, a Renault deixa na diferença de preços entre os carros a coisa bem clara: o Symbol está situado para brigar no mercado entre o Logan e o Mégane na linha de sedãs da marca, até porque, apesar da plataforma mais atual, as linhas simples e ultrapassadas presentes no Logan não permite à Renault executar extravagâncias no preço do carro.
Modelo ficará entre o Logan e o Megane na linha de sedãs da marca.
O Renault Symbol tem preço inicial em R$ 38.840,00, na versão Expression 1.6 (92/95 cv gasolina / etanol). Esse preço já inclui itens como ar condicionado, direção hidráulica e duplo air bag. Um opcional desta versão é o motor 1.6 16V de 110/115 cv (gasolina/etanol), que faz o preço saltar para R$ 40.120,00. Na versão Privilège, o preço salta a R$ 43.610,00 com o motor 1.6 16V de série. Em relação ao Expression, adiciona bancos aveludades, rodas de liga leve de 15 polegadas, faróis de longo alcance, ar condicionado com comandos digitais e computador de bordo, entre outros.
Assim, seus concorrentes, contando todas as versões e motorizações, são os sedãs compactos de preços acima dos sedãs de entrada, ou seja, todos os sedãs compactos derivados de hatches do mercado atual, exceto os Chevrolets Corsa Classic e Prisma, Fiat Siena Fire, além do seu irmão Logan. Ou seja, considerando apenas as versões que se aproximem do porte, preço e proposta do Symbol, podemos fazer um breve comparativo na tabela abaixo :
Bem que a Renault tentou disfarçar, mas o desenho denuncia que o Symbol é um Clio sedã profundamente reestilizado.
À primeira vista, o Symbol passa a impressão de que crescera bastante em relação ao Clio sedã, mas fato é que a novidade é maior 6 cm no comprimento, 4 cm na largura e 2 cm na altura. O entreeixos é o mesmo, entregando que o modelo possui a mesma base do Clio. Com isso, os balanços dianteiro e traseiro do Symbol aumentaram, dando a sensação de maior porte. Um olhar um pouco mais atento entrega o alto grau de parentesco entre o finado Clio sedã e o Symbol. Não é exagero afirmar que o Symbol nada mais é que um Clio sedã reestilizado e poderia perfeitamente herdar o nome do antecessor, mas que talvez não fosse interessante pelo fracasso em vendas do modelo e pelo fato do Clio hatch permanecer no mercado com o desenho inalterado.
As semelhanças não param por aí. As linhas das portas, na área próxima à base dos vidros, tem a mesma curvatura em relação ao Clio sedã e as portas somente não são idênticas pelo fato de o carro possuir um vinco que surge desde os paralamas dianteiros e percorre toda a carroceria, norteando a posição das maçanetas. Até o posicionamento dos retrovisores em relação aos vidros e aos paralamas dianteiros denuncia a semelhança entre os projetos.
Traseira resolve parcialmente um dos principais problemas no desenho do Clio sedã.
Apesar de toda relação entre o Symbol e seu antecessor, o resultado do visual do novo modelo é muito melhor elaborado, já que no Clio sedã, a traseira parecia ser encaixada à força no Clio Hatch, sem haver cuidados ou compromissos com desenhos do teto ou das laterais. No Symbol, apesar do desenho simples demais, as partes se encaixam melhor entre si.
Nota:
Revestimento aveludado é exclusivo da versão Privilège.
Internamente, a Renault se inspirou no painel do Clio de 3ª geração, vendida na Europa, dando um bom passo à frente em relação ao Clio sedã e se atualizando frente à uma concorrência feroz, em que modelos como Polo sedã e 207 Passion se destacam no quesito.
Painel é inspirado no Clio 3 europeu.
O espaço interno decepciona e isso pode ser um problema na vida do carro, já que dentro da mesma concessionária Renault, seus potenciais clientes terão o Logan, mais barato e muito mais espaçoso em todas as direções. No fim das contas, em sua categoria, ele supera apenas o Peugeot 207 Passion fica no mesmo nível do Fiat Siena e VW Voyage, perdendo para o VW Polo, Ford Fiesta e seu irmão Logan, o campeão no quesito. Nos bancos dianteiros, o motorista mais alto pode levar um tempo para se ajustar perfeitamente ao ambiente do carro, mas dá para se acostumar. O passageiro não tem muito do que reclamar, mas para quem vai atrás, a história é diferente. Caso o banco dianteiro esteja muito recuado, ou recuado até o ponto em que um motorista de 1,81m (meu caso) sinta-se confortável, é certo que haverá no banco de trás um passageiro algo desconfortável com o espaço restante. Em resumo: é o mesmo espaço interno do Clio, item pelo qual o modelo que sai de linha nunca foi elogiado. O porta-malas, porém, dá uma força com seus 506 litros, 4 a menos que o extinto Clio e que seu rival na marca, o Logan.
Porta malas é um dos maiores da categoria.
Um defeito do Clio sedã e que foi eliminado no Symbol é o posicionamento dos controles dos vidros elétricos, corretamente instalados no apoio de braços das portas dianteiras no novo modelo. O das portas traseiras continuam posicionados no final do console central dianteiro, defeito comum em muitos carros de origem francesa. E uma ausência muito sentida em todas as versões é o apoio de cabeça para o quinto passageiro.
Painel de instrumentos é igual ao do Clio 3 europeu.
É fácil encontrar uma boa posição de dirigir com o auxílio da regulagem de altura de série, mesmo com o volante levemente inclinado para cima. Mesmo com muitos anos de mercado do Clio 2, modelo do qual deriva, o Symbol agrada.
O painel de instrumentos é atual, completo, de fácil leitura e iluminação âmbar que pode cansar em longas viagens. Seu desenho vem diretamente das versões básicas do Clio 3 europeu.
Nota:
Motor 1.6 16V é a estrela da linha.
Ambos os motores são da família Renault K, que surgiu na Europa em 1995 com bloco de ferro, comando de válvulas no cabeçote, que pode ter 8 ou 16 válvulas. Ele é uma evolução do motor Renault "E-type", surgido no final dos anos 80, que por sua vez, era uma profunda evolução do projeto "Cléon-font", este surgido em 1962 no Renault 8, ainda com comando de válvulas no bloco, o mesmo que originou o Ford CHT dos anos 80, mas que era usado pela fábrica americana desde o lançamento do Corcel, em 1968, num projeto herdado da Wyllis, que licenciava projetos da Renault e que fora adquirida pela Ford anos antes. Uma história e tanto, cujos detalhes podemos deixar para outro texto e voltsr a focar no teste do Symbol.
O parentesco com o bom e velho Cléon-Font se faz presente em qualidades como durabilidade, baixo consumo de combustível e bom torque em baixas e médias rotações de ambos os cabeçotes, além de bom desempenho em alta do cabeçote de 16 válvulas que, se não é "girador", ao menos não tem a morosidade dos cabeçotes multiválvulas em baixos regimes. Durante o teste, pudemos notar que o motor de 8 válvulas tem um torque constante e que não decepciona, mas também não chega a empolgar e fica apenas razoável em alta rotação, trabalhando sempre em relativo silêncio. Já o 16 válvulas é bem interessante e chega a empolgar quando exigido, especialmente com etanol no tanque. Porém, nem tudo são flores: ele é mais ruidoso e isso chega a incomodar a partir de 4000 RPM.
O câmbio JB3 passou por ligeiras melhorias, mas segue com movimento estranho em reduzidas e um pouco pesado nas trocas, sinal da idade, já que é muito antigo oferecido em modelos da marca desde os anos 80.
Os freios são a disco ventilados na dianteira e tambor na traseira. A Renault poderia oferecer discos na traseira ao menos nas versões com motor 16 válvulas para melhorar a eficiência na frenagem. Não que o atual seja ruim, as frenagens são boas e não demostram sinais de fadiga em uso um pouco acima do normal para o dia a dia, o qual submetemos durante o teste, mas se a marca quisesse realmente se firmar como opção segura na categoria (falaremos disso abaixo), isso seria uma melhoria bem vinda.
A direção hidráulica é um pouco mais pesada que o ideal em manobras, mas fora isso, é bem calibrada, tem boa comunicação com o motorista e peso correto em altas velocidades e transmite poucas vibrações. É muito similar ao Clio sedã, mas com ligeiras melhorias.
Já quanto ao desempenho do carro, não há do que reclamar. Seu motor flexível 1.6 8V rende 92 cv / 13,7 kgf.m na gasolina e 95 cv / 14,1 kgf.m no álcool. Já o 1.6 16V rende 110 cv / 15,2 kgf.m abastecido com gasolina e 115 cv / 16 kgf.m quando utiliza-se álcool. O valor de velocidade máxima em reta ficou em 169,6 km/h com gasolina e 171,84 km/h com álcool para o 1.6 de 8 válvulas. Na aceleração do mesmo motor, os tempos foram 11 segundos no 0 a 100 com gasolina e 10,7 com álcool. Já o Expression de 16 válvulas mostra muito vigor e acelerou de 0 a 100 em 10,3 segundos com gasolina e 9,8 no álcool. A velocidade máxima também mostrou bons valores para uma unidade 1.6 e ficou em 180,14 km/h com gasolina e 183,8 km/h com álcool no tanque. O Privilège. 16 válvulas tem praticamente o mesmo peso do Expression de motor igual (5 kg a mais) e com pneus mais largos e baixos, apresentou números próximos, sendo a dimensão dos pneus favorável ao Privilège. em todos os aspectos: a altura é praticamente a mesma porque, apesar da versão topo de linha usar perfil mais baixo (55), possui aro 15 polegadas nas rodas e, portanto, a diferença de altura da rodagem é mínima, mas o suficiente para garantir ligeira diferença na velocidade final. Já as arrancadas foram melhores porque a maior largura (1 polegada a mais na tala das rodas e 1 cm a mais nos pneus) ajudou o carro a "grudar" mais na saída. Obtivemos máxima de 181,01 km/h com o Privilège. na gasolina e 184,06 no álcool. Já no quesito aceleração, o mais caro dos Symbol fez o 0 a 100 km/h em 10,2 segundos com gasolina e 9,7 com álcool.
Considerando tratar-se de um SUV compacto familiar, o DuratecDirect fez valer seus bons números de potência e torque com relação ao desempenho, com destaque para o grande aumento de torque quando abastecido com etanol, algo positivamente tradicional na Ford desde os tempos do “proalcool”.
Notas:Com números razoáveis, exceto o 1.6 de 8 válvulas, que se mostrou econômico em ambos os combustíveis, algo ainda raro em carros bicombustíveis. Entre os 16 válvulas, os pneus mais largos representam agora uma desvantagem ao Privilège, mas algo que não representa grandes prejuízos.
O consumo pode ser um item essencial para o consumidor e se for o seu caso, ou se você não faz questão da tração integral, mas quer ficar na linha Ecosport, olhe com carinho a Titanium, que possui acabamento tão bom quanto a STORM, mas com consumo muito mais comedido e desempenho satisfatório.
Notas:Caro leitor, você já dirigiu um Clio sedã 1.6 16V? Pois bem, pouco muda para o recém chegado Symbol. O carro tem suspensões muito bem acertadas e as suspensões fazem muito bem seu papel, seja ele transmitir razoável conforto ou segurar a carroceria nas curvas. Em qualquer situação o Symbol passará aos ocupantes sensação de segurança sem ser "duro".
Com câmbio de funcionamento extremamente suave, direção de comunicação direta e leve em manobras, mas com peso correto em velocidades de rodovia, suspensões que trabalham muito bem com a tração integral (que ajuda neste processo), o carro surpreende com comportamento até melhor que o de alguns modelos que não são SUV ou crossovers de marcas concorrentes. Os freios são competentes, mas dentro da média da categoria, algo que a adoção de discos na traseira certamente ajudaria a melhorar.
O que pode incomodar um pouco são os pneus de perfil relativamente baixo para a proposta do carro, que acaba sobrecarregando um pouco os amortecedores e batentes em ruas mal cuidadas, algo comuns em nossas cidades.
No mais, um carro agradável de dirigir; equilibrado e bem acertado. Como o Clio.
Notas:Em termos de segurança passiva, não há o que se reclamar da versão STORM. O modelo possui o AdvanceTrac, sistema anticapotamento da marca em que sensores analisam o ângulo de inclinação lateral do carro em tempo real e caso haja risco, acionam os freios individualmente e reduzem a potência do motor para manter o controle do veículo.
Os pneus escolhidos são voltados ao asfalto, o que em nossa opinião foi um acerto, pois apesar de ser um modelo aventureiro de tração integral sofisticada, acreditamos que a grande maioria dos seus usuários utilizarão a Ecosport STORM em ciclo urbano na maior parte do tempo. Pneus de uso misto trariam uma piora em desempenho, frenagem, capacidade de contornar curvas e consumo
A Ecosport STORM também vem com 7 air bags (frontais, laterais dianteiros e traseiros e de joelho do motorista), acendimento automático das luzes de emergência após frenagem brusca, controles de tração e estabilidade, aviso de cinto de segurança desatados (apenas motorista e passageiro dianteiro), faróis de xénon, luzes de neblina dianteira e traseira, freios ABS com EBD, luz de rodagem diurna (DLR) e travamento automático das portas.
Suspensão traseira independente ajuda a deixar o conjunto muito bem acertado.
As versões STORM e Titanium são as duas únicas da Ecosport que escaparam da equipe de depenação da Ford e mantiveram importantes itens de série também na área da segurança, portanto, só não leva nota máxima pela falta de aviso do cinto de segurança para todos os ocupantes.
Notas:Tabelado a R$ 113.490,00 (setembro/2020), o Ecosport STORM é a versão de topo do veículo e a pintura "Cinza Trancoso" é o seu único opcional. Se não é exatamente uma barganha, seu valor inclui itens de série inexistentes em concorrentes na mesma faixa de preço, como faróis xénon, sistema de som com 9 alto-falantes da marca Sony, teto solar elétrico, bancos em couro, multimídia de 8 polegadas, ar condicionado digital, sistema de divisão do porta-malas, além da tração integral. São itens importantes e que podem compensar a idade do projeto em relação aos competidores na mesma faixa de preço, tais como o Honda HR-V XL, Renault Duster Iconic, Renault Captur Intense.
Lâmpadas de xênonio Phillips estão entre as mais eficientes do mercado.
Notas:Quem gosta totalmente do Clio Sedã fatalmente gostará do Symbol. Quem gosta do Clio Sedan até onde a razão deixa (ou seja, não aprecia o visual), tem grandes chances de comprar um Symbol, pois seu visual agrada. Quem não gosta de alguma característica do Clio que não seja o design, não comprará o Symbol: Ele é um Clio reestilizado e rebatizado. Porém, se não merece liderar a categoria, também não merece vender tão pouco, afinal, tem uma boa relação custo X benefício e é um carro equilibrado. A montadora muitas vezes dá a impressão de ter apenas Sandero e Logan em sua linha de veículos e quando isso mudar e o Symbol receber mais atenção nos investimentos de marketing, isso pode mudar.
Abaixo, os números do teste, sempre com gasolina/etanol:
Pontos positivos:
Acabamentos
Itens de série
Tração integral inteligente.
Desempenho
Pontos negativos:
Consumo
Espaço para pernas do banco traseiro.
Nota média: 7.25
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